Um momento de diálogo com os povos de terreiros foi realizado na noite desta quinta-feira, 11, pelo prefeito municipal, Zé Ailton Brasil, e os integrantes de religiões de matriz africana, no Município, com a finalidade de reivindicar políticas voltadas para a prática dos cultos, sem preconceito, discriminação e até mesmo ações de violência, além de solicitarem a desburocratização de alvarás para os terreiros de umbanda e candomblé e liberação de áreas em meio à natureza, a exemplo de riachos com quedas de água para a vivência dos cultos. A reunião foi realizada no terreiro de Francisca Raimunda - Mãe Kum, no bairro São Miguel.
O Prefeito do Crato ouviu atentamente a todas as reivindicações e disse inicialmente ser contra qualquer tipo de intolerância e lembrou que, enquanto deputado, apresentou na Assembleia Legislativa uma lei penalizando qualquer tipo de discriminação, seja de raça, cor ou credo. "Não podemos aceitar a política do ódio, da discriminação e da violência", diz. O chefe do executivo ainda destacou que tudo que estiver ao seu alcance, dentro dos princípios legais, terá o apoio da administração.
Comissão
O gestor municipal pediu para ser formada uma comissão com os integrantes dos terreiros, para verificar como cada secretaria poderá empreender ações que possam minimizar os problemas enfrentados. Ele ainda destacou a importância da conscientização nesse processo de combate à discriminação, e para isso, a partir de agora será implementado nas escolas o conhecimento da Lei Maria da Penha. E essa mesma visão deverá ser mantida em termos de educação, em relação às pessoas de todas as religiões. "Será uma forma de minimizar. É inadmissível que casos de discriminação aconteçam em qualquer segmento que seja", diz ele.
A umbandista Micaele Bezerra disse que quer ter a sua religião com paz, mas infelizmente a lei ainda não ajuda. Ela solicitou ao prefeito melhores condições para a liberação dos alvarás, e com isso, os povos terem melhores condições de liberdade para os cultos. "A gente quer tocar a nossa macumba, a nossa umbanda, em paz, sem desrespeitar ninguém. Assim como as outras religiões podem ter o seu culto", disse, ao pedir apoio do Prefeito perante à lei. "A gente não é uma religião ruim, somos uma família, e vestimos branco porque a gente é de paz", disse ela. Ela ainda lembrou a discriminação existente até mesmo nas escolas em relação ao seu filho, no que diz respeito à religião.
Baba Edilson disse que ao realizar cultos na Cascata, em Crato, os umbandistas foram atacados, e há uma necessidade do diálogo com o meio ambiente. Além disso, ressaltou que deve haver melhor preparação dos profissionais de saúde no atendimento aos povos de terreiro. "Há várias intolerâncias, desde pessoas que chamam polícia nos locais, atacam terreiros e queremos fazer uma campanha de combate à intolerância", diz ele.
Propostas
O documento apresentado pelo servidor Gabriel Alencar e posteriormente entregue ao prefeito, contou com reivindicações como a criação do Conselho Municipal do Povo de Terreiro de Matriz Africana, Políticas públicas voltadas para o povo de terreiro, voltada à antidiscriminação, além da criação da semana municipal da umbanda do Crato, a ser realizada de 12 a 19 novembro, incluindo também conferências, seminários, e a data municipal 15 novembro como o Dia da Umbanda. O documento com as propostas também será repassado ao legislativo municipal.