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22-SET-2025

O Cariri em romaria: no Caldeirão, a fé libertadora renova a história e a identidade de um povo

Por Comunicação 22/09/2025 #cultura

O Crato viveu, no último domingo, 21 de setembro, um dos mais emblemáticos encontros de fé e memória popular do Cariri: a 25ª edição da Romaria do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto. Realizada no sítio que guarda a herança comunitária e espiritual do beato José Lourenço, a romaria trouxe como tema "Jubileu das Comunidades Eclesiais de Base - CEBs" e lema "Peregrinos de esperança por uma terra sem males", consolidando-se como espaço de resistência cultural, celebração religiosa e reflexão sobre a partilha coletiva.

A programação integrou momentos de acolhida, celebração e apresentações artísticas, em uma confluência de espiritualidade e expressão popular. O evento contou com a presença do prefeito André Barreto e da secretária de Cultura, Fabiana Vieira, representantes do Executivo municipal que apoiaram a realização da romaria, fortalecendo o elo entre fé, tradição e identidade.

Entre os que preservam a memória do Caldeirão, destaca-se o professor Sandro Leonel, bisneto de Severino Tavares, que, segundo ele, foi enviado por Padre Cícero para auxiliar o beato Zé Lourenço na experiência comunitária. "A força do local se dava através da liberdade. O trabalho de Severino era chamar as pessoas para que pudessem viver em paz no ideário do Caldeirão", disse. O professor ressaltou ainda que esse ideário, profundamente ligado à mensagem de Cristo, despertou tanto devoção quanto incompreensão, mobilizando pesquisadores e inspirando obras que já ultrapassaram fronteiras. Leonel lembrou da produção do documentário Caminhos do Caldeirão - a diáspora, trilogia em andamento viabilizada pela Lei Paulo Gustavo. Além disso, destacou a realização de uma exposição, prevista para outubro, no Centro Cultural do Araripe, no Largo da RFFSA, iniciativa que contará com apoio da Secretaria de Cultura do Crato.

A dimensão espiritual da romaria foi evidenciada pelo testemunho da Irmã Cidinha, da Congregação de Nossa Senhora Cônegas de Santo Agostinho, natural do Juazeiro do Norte e em missão em Goiânia há mais de uma década. "Vim para a Romaria de Nossa Senhora das Dores e estendi minha caminhada até o Caldeirão do beato Zé Lourenço. Aqui encontramos a história da luta que acreditamos: onde podemos ter uma vida sem males e justiça para todos", afirmou.

Já para Eremita Brito Siebra, diretora da Escola Filantrópica O Semeador, participar da celebração significou reencontro com sua própria trajetória. "Sou cratense, embora resida em Juazeiro. Estar em minhas raízes, compreender melhor a vida de partilha, foi muito importante. Essa fé libertadora que sentimos aqui na Romaria do Caldeirão nos renova" refletiu.

A memória do Caldeirão do beato Zé Lourenço

A Romaria do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto é um ícone da religiosidade popular e da resistência histórica do Cariri. No início do século XX, sob a liderança do beato José Lourenço e com a inspiração de Padre Cícero, centenas de famílias construíram no Caldeirão uma experiência comunitária pautada no trabalho coletivo, na partilha de bens e na fé cristã. O modelo, visto por muitos como exemplo de solidariedade e autossuficiência, despertou esperanças, mas também perseguições, resultando em episódios de repressão que marcaram a região.

Com o tempo, a romaria passou a reinterpretar essa trajetória de luta e espiritualidade, transformando o Caldeirão em lugar de memória, resistência e inspiração para as novas gerações.

Texto: Hermínia Rachel Saraiva

 

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